Um novo modelo de desenvolvimento para a América Latina e o Caribe

Um novo modelo de desenvolvimento para a América Latina e o Caribe
©Nico Granada/EverydayLATAM

A América Latina enfrenta uma situação complexa, produto de uma acumulação de crises que vêm se arrastando há décadas e os graves problemas estruturais das sociedades que vieram para piorar. Problemas como a desigualdade, a pobreza, a iniquidade, a insegurança, a degradação ambiental, as violências, o desemprego, o crime organizado, a corrupção e a impunidade, aos que se somam agora os efeitos negativos da pandemia pela COVID-19 e a guerra na Ucrânia, gerando maior descontento cidadão que dificulta a governabilidade e debilita a qualidade da democracia.

Neste contexto a cooperação é essencial. Isso se tornou manifesto nas dificuldades que ainda persistem para enfrentar os impactos da pandemia, os quais expuseram injustiças sociais e econômicas, assim como brechas digitais no acesso ao emprego e à educação. Nenhum país por si mesmo, nem sequer as grandes potências mundiais, pôde resolver os problemas globais, sendo o mais urgente a mudança climática, porque põe em risco nossa própria existência.

Neste cenário, as instituições multilaterais estão chamadas a exercer uma ação coordenada a nível global. No entanto, estas instituições se viram debilitadas nos últimos anos pelo surgimento de nacionalismos, extremismos, e inclusive os interesses comerciais e econômicos de alguns países.

Desde um ponto de vista mais otimista, também é certo que a pandemia catalisou uma cooperação científica de dimensões, antes, pouco vistas. Cientistas e pesquisadores de diferentes países e áreas puseram toda a sua experiência e conhecimento na busca de soluções aos diferentes problemas que emergiram da crise, implementando mecanismos de cooperação entre grupos científicos, governos, setor privado e organismos internacionais.

De tudo isto podem ser tiradas várias lições: em primeiro lugar, para enfrentar crises futuras necessitamos mais multilateralismo. Só mediante uma institucionalidade que transcenda as fronteiras nacionais poderá ser feita uma adequada gestão dos riscos globais e só assim poderá se enfrentar de maneira adequada à seguinte pandemia ou a mudança climática.

Por outro lado, necessitamos melhor multilateralismo. Isto significa fortalecer a institucionalidade multilateral, dotando-a das ferramentas necessárias para realizar seu labor de maneira efetiva, e aumentar a legitimidade do sistema multilateral tornando-o mais próximo às necessidades das pessoas e promovendo uma maior participação da sociedade civil.

Para enfrentar crises futuras necessitamos mais multilateralismo, mas também “melhor multilateralismo”, que acarreta aumentar a legitimidade do sistema multilateral para fazê-lo mais próximo às pessoas e às suas necessidades

Um sistema multilateral forte só é possível caso se contar com Estados fortes, democráticos, com institucionalidade sólida, com mecanismos de fiscalização e comprometidos com o bem comum, inclusive mais além de suas fronteiras.

As nações cooperam pelo produto de oportunidades e circunstâncias em determinados contextos. Decidem cooperar quando está em seus interesses fazê-lo, e é na concatenação de forças e circunstâncias onde se fortalecem ou debilitam as relações, os valores e os princípios partilhados pelos países. Isso facilita ou dificulta o estabelecimento de mecanismos de concertação e coordenação de políticas.

Um olhar à região latino-americana em seu conjunto revela as necessidades de concertação, mas, ao mesmo tempo, as dificuldades de conciliar interesses. Por um lado, a concertação política teve um papel efetivo de interlocução, mas por outro lado, um déficit quanto à ação concertada. Esta carência para encontrar mecanismos de ação conjunta, dificulta a consolidação de uma perspectiva comum e a sua transformação em ações que permitam uma melhor inserção da América Latina no mundo.

A pandemia golpeou a América Latina e o Caribe em um momento de mínimos históricos na integração e de grande debilidade econômica.

Evitar que o golpe de uma nova década perdida seja maior, requer de concertação política entre os países, assim como entre os governos e os distintos atores da sociedade.

As oportunidades passam pela consciência de nos reconhecermos como região, pela vontade de nos entendermos como ator global caso sejam alcançados consensos mínimos para o progresso, valorizando nossas similitudes e respeitando nossas diferenças, o que ao final, permitirá aproveitar as opções de cooperação às portas da transição internacional na qual se encontra o mundo.


Resumo do artigo da secretária geral do FLACSO, Josette Altmann-Borbón na edição No. 12 da Revista Pensamiento Ibero-Americano.

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