O bilinguismo é uma característica distintiva e identitária da Comunidade Ibero-Americana, património comum dos 22 Estados-membros que a conformam. Reflete o desejo expresso pelos países ibero-americanos, durante a sua I Cimeira, realizada em junho de 1991, em Guadalajara, de valorizar o equilíbrio das línguas portuguesa e espanhola na Comunidade e de promover a sua presença no âmbito global, celebrando dessa forma a nossa “diversidade comum”.
A proximidade entre as línguas espanhola e portuguesa abre caminho para a intercompreensão entre os seus falantes e constitui uma das chaves do sucesso em que se funda a construção da Comunidade Ibero-Americana, um projeto baseado, em simultâneo, no diálogo entre dois espaços regionais – América Latina e Península Ibérica – e na convivência entre seus dois idiomas, o espanhol e o português. As duas línguas servem também de pilares ao projeto ibero-americano e ao compromisso de cooperação por ele consubstanciado.
As línguas espanhola e portuguesa são pilares do projeto ibero-americano e ao compromisso de cooperação por ele consubstanciado.
O espanhol e o português são línguas globais, num sentido amplo: são faladas por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo (mais de 850 milhões na actualidade, segundo dados da UNESCO); sua presença não está circunscrita ao espaço ibero-americano, sendo faladas tanto no hemisfério norte quanto no sul, na Europa, na África, na Ásia e nas Américas; e são línguas com um grande dinamismo, quer por motivos demográficos, quer enquanto ferramentas de comunicação, utilizadas por um número crescente de pessoas mundo afora, em diferentes contextos e intervenções multidisciplinares.
Expressão da diversidade cultural
Ambos os idiomas são ainda matriz de um rico acervo cultural, linguístico e humano partilhado globalmente. Na realidade, a força das línguas não se mede apenas pelo número de pessoas que as falam, baseando-se também na qualidade e diversidade das diferentes formas artísticas – como a literatura, o teatro, o cinema ou a música – que as utilizam e expandem: nesse âmbito, a riqueza e a diversidade das diferentes expressões culturais latino-americanas, africanas e europeias que se expressam em espanhol e em português constituem sem dúvida uma das suas maiores fortalezas, não esquecendo também que a projeção internacional de uma língua depende atualmente, sobretudo, de sua projeção como língua de conhecimento e de inovação, aquela em que se expressa a ciência e que está presente nas plataformas digitais e nas redes. Também aqui os dois idiomas apresentam um grande potencial de crescimento, daí derivando a relevância como línguas de comunicação e de trabalho nas áreas das humanidades, ciências, tecnologia, inovação, cultura, educação e relações internacionais.
Na última Cúpula Ibero-Americana, realizada em São Domingos em março deste ano, o bilinguismo foi reafirmado como característica emblemática da Conferência Ibero-Americana, gerador de coesão e identidade regional, constituindo um eixo transversal de todo o seu trabalho e incorporado em todos os acordos e documentos ali aprovados, incluído o III Plano de Ação Quadrienal de Cooperação Ibero-Americana (PACCI 2023/2026)..
Na última Cúpula Ibero-Americana, o bilinguismo foi reafirmado como característica emblemática da Conferência Ibero-Americana, constiundo un eixo transversal de todo o seu trabalho.
Na mesma ocasião, foi adotado um Comunicado Especial sobre o bilinguismo e a promoção do uso do espanhol e do português como idiomas de comunicação e trabalho nos domínios da ciência, tecnologia, inovação, cultura e relações internacionais. Neste Comunicado, os Chefes de Estado e de Governo celebram a decisão de outorgar carácter transversal ao bilinguismo em todos os eixos do III PACCI 2023/2026 e apoiam a adoção dos diferentes Planos apresentados na V Reunião de Ministros/as e Altas Autoridades de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em novembro de 2022 em Santiago de Compostela, destacando a importância dos referidos Planos para promover ações estratégicas que contribuam para a presença e promoção de ambos os idiomas na comunicação científica, no espaço digital, na inteligência artificial e na promoção de um espaço ibero-americano de dados, que possam servir para fortalecer o acesso universal ao conhecimento, à divulgação científica e ao Espaço Ibero-Americano do Conhecimento, bem como a sua projeção internacional.
Desafios futuros
Outros desafios importantes para alcançar uma maior visibilidade e projeção do espaço ibero-americano a nível internacional e reafirmar a importância do espanhol e do português passam por:
- Promover o ensino e aprendizagem de ambas as línguas, designadamente nas regiões transfronteiriças, em cooperação com outras instituições e organismos.
- Promover os dois idiomas como línguas de produção e comunicação científica e tecnológica, assim como em inteligência artificial.
- Promover a participação em iniciativas sobre bilinguismo que contribuam para um maior conhecimento recíproco das duas línguas.
- Promover a sua aprendizagem no espaço ibero-americano através da articulação com instituições responsáveis da língua dos diferentes países.
- Promover, em cooperação com os Estados-membros da Comunidade Ibero-americana, a utilização de ambas as línguas nos diferentes foros internacionais, onde a sua presença é ainda pouco significativa.
Partilhar dois idiomas mutuamente compreensíveis constitui uma imensa vantagem para o projeto ibero-americano. Os nossos países não aspiram a uma unidade linguística ou cultural mas antes, pelo contrário, a celebrar a nossa “diversidade comum”, vista como uma riqueza que encerra um enorme potencial através do diálogo e intercâmbio de nossas culturas, manifestadas por meio de nossas línguas.