Perante uma crise sanitária, econômica, socioambiental e alimentar que golpeia com força muitos países da região, que agudiza a desigualdade social, a cozinha tradicional, o conhecimento de saberes ancestrais e a participação comunitária se convertem em oportunidades para construir um futuro mais sustentável, porque demostram que novas formas de fazer, produzir e consumir podem ajudar a prevenir os desequilíbrios que originaram esta crise.
Entendendo que as formas ancestrais de cozinhar propõem uma relação respeitosa com o entorno e que são o centro de um círculo virtuoso de formas justas e limpas de produzir, comercializar e consumir, a cooperação ibero-americana, através de seu Programa Ibercozinhas impulsiona políticas, estratégias e iniciativas para salvaguardar e promover a gastronomia tradicional na Ibero-América, como uma contribuição ao desenvolvimento sustentável de nossa região.
Um prato de comida tradicional nos fala sobre técnicas de cultivo, preparação, conhecimentos ancestrais, formas de organização comunitária, rituais, espiritualidade e sabedoria, um patrimônio cultural que é vital recuperar, visibilizar, acompanhar e apoiar.
Através de ações concretas como o Fundo Ibero-americano de Cozinhas para o Desenvolvimento Sustentável, financiamos e oferecemos apoio técnico a 21 iniciativas comunitárias que propõem soluções criativas e sustentáveis perante a crise COVID-19, ao mesmo tempo que reivindicam a cultura alimentar e o patrimônio gastronômico de nossa região.
O Fundo Ibercozinhas atualmente está destinado a cozinheiras e cozinheiros tradicionais de distintas regiões e comunidades, líderes comunitários, gestores culturais e criativos comunitários, conselhos comunitários e afrodescendentes e cabidos indígenas, assim como organizações comunitárias dos seis países membros do Ibercozinhas (Argentina, Colômbia, Equador, México e Peru.)
Perante a queda da atividade econômica na maioria das populações da região, ficou demonstrado que as cozinhas tradicionais e a ação local organizada podem impulsionar o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo que se convertem em alternativas econômicas viáveis de viver e construir uma vida digna, mediante a agricultura sustentável e sistemas de produção local que põem em valor a sabedoria, criatividade, solidariedade e cooperação comunitária.
Desde 2014, o Ibercozinhas trabalha para resgatar e fomentar as cozinhas tradicionais, seus saberes e significados, impulsionando as cadeias produtivas sustentáveis e a inovação culinária com a visão da Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável.
Comunidade Ibercozinhas: o valor do “juntos”
A finais de 2020, relançamos nossa imagem corporativa e apresentamos uma nova plataforma digital www.ibercocinas.org, desde onde impulsionamos a “Comunidade Ibercozinhas”, para fomentar o intercâmbio de saberes, experiências, receitas, cultura e inovação, com o objetivo de retroalimentar as cozinhas tradicionais, aprender juntos e compartilhar experiências de êxito que possam inspirar outras comunidades e ser replicadas.
Unidos pela convicção de que o alimento representa o nascimento das culturas em torno de um diálogo com o território, o Ibercozinhas.org difunde a diversidade e pontos em comum do patrimônio gastronômico regional, gerando espaços para compartilhar descobertas sobre a gastronomia ibero-americana, apresentando experiências inspiradoras, receitas, saberes e os rostos, histórias de nossas cozinheiras/os em seu entorno comunitário, boas práticas de produção, associatividade, criatividade e inovação que conformam a riqueza patrimonial de nossa gastronomia. A pandemia pôs a prova os meios de subsistência de muitas populações na Ibero-América, agudizando a desigualdade preexistente e acentuando a pobreza, mas também aumentou o valor do que é comum, daquilo “que construímos entre todos”. A gastronomia tradicional é um exemplo desta construção coletiva e harmônica com o entorno.
Testemunhos
Edith y Celia do Projeto Panela Comum Villa San Juan, Peru
“Hemos empezado a cocinar para poder mantener a nuestros niños y ancianos. Hoy estamos emprendiendo con nuestra repostería para sostener nuestra olla comunitaria, porque no solo tenemos que recibir, sino también dar”.
Benilda Angel, mulher Ticunas de San Martín de Amacayacu, Amazonas, Colômbia
“Somos el grupo de Sabores y Saberes Ticuna, de la comunidad indígena San Martín de Amacayaku, Amazonas, Colombia. Y hemos recuperado platos típicos el casabe, mazamorra de mojojoy, asado de carne de borugo, el plato del pescado asado y los hemos podido compartir con otros compañeros con el apoyo de Ibercocinas.”
Visão a futuro
En 2021, tenemos previsto realizar la segunda edición del Fondo Iberoamericano de Cocinas para el desarrollo sostenible y ser un punto de encuentro de las políticas públicas enfocadas a las cocinas comunitarias y tradicionales para los países de la región.
Seguiremos apoyando iniciativas comunitarias que con creatividad puedan ofrecer soluciones para mitigar los efectos de la crisis y construir una normalidad más sostenible donde en cada plato de Iberoamérica, se encuentre un alimento sano, con identidad y preparado de generación en generación. Seguiremos trabajando por los fogones de Iberoamérica.
