Ibero-América avança quando apostamos pela cultura

A Ibero-América é uma potência cultural pela qualidade e diversidade de suas expressões artísticas, mas também porque defende o vínculo entre cultura e desenvolvimento sustentável

Ibero-América avança quando apostamos pela cultura

“Se não fosse pela música, provavelmente eu estaria morto ou na cadeia”, confessava um jovem de um bairro desfavorecido a quem a cultura, literalmente, salvou sua vida, não só porque o afastou das gangues, senão porque graças às Orquestras Juvenis pôde descobrir um talento e uma vocação que enche sua vida.

Em um povoado perdido do México e no pior momento da pandemia, graças ao apoio do Iberartesanato, um grupo de mulheres puderam adquirir os materiais para confeccionar seu artesanato que, posteriormente, venderiam por Internet. Ao mesmo tempo, em outras comunidades recônditas de nossa região, o Programa Ibercultura Viva apoiava panelas comunitárias para levar alimento a muitas pessoas nos piores meses do confinamento.

São experiências que demonstram que cultura é mais que diversão, entretenimento ou folclore. Inclusive quando as luzes se apagam e cai o pano, a cultura é capaz de devolver a esperança e semear desenvolvimento sustentável ali onde mais faz falta.

Investir em cultura é também semear desenvolvimento, emprego e assentar as bases da recuperação

Isto ficou demostrado em um momento em que a crise econômica continua golpeando com força o setor cultural. Por isso, investir em cultura é também semear desenvolvimento, emprego e assentar as bases da recuperação a partir de um dos setores que mais sofreram a crise.

Desde o portal Somos Ibero-América queremos despedir o ano de 2021 com as vozes de cineastas, músicos, dramaturgos, cantores e artistas que coincidem em que a “Ibero-América avança” quando apostamos pela cultura.

Ibero-América, uma potência cultural

Diz-se amiúde, e com razão, que a Ibero-América é uma potência cultural pela qualidade e diversidade de sua produção artística, literária e cinematográfica. Na realidade, a Ibero-América é ao mesmo tempo interculturalidade e multiculturalidade. Nossa cultura emerge da fusão e da mestiçagem de nossa herança indígena, afro e europeia, enriquecida e temperada pelas migrações ao longo da história.

A Ibero-América é também sons, cores, cheiros, sabores. Nossa cultura não se  cria nos escritórios, senão na rua, nos povos, nos bairros e nasce das pessoas, de seus talentos, de seus encontros, seus intercâmbios que  criam algo completamente novo, como a gastronomia mestiça de María Marte, a música de Carlinhos Brown que põe até o espírito para dançar, a poesia feita canção do uruguaio Jorge Drexler ou a união de ritmos e vozes do Coro Ibero-americano de Madri.

Os embaixadores ibero-americanos da cultura Jorge Drexler, Carlinhos Brown e, mais recentemente, María Marte são testemunho vivo de uma Ibero-América construída também desde as pessoas e sua cultura, uma região feita a si mesma e que “avança quando nos unimos e estamos orgulhosos do que somos”, como bem diz a chefe dominicana María Marte.

El 2022, año clave para la cultura

Há outra razão pela qual a Ibero-América é uma potência cultural. Nossa região é a primeira do mundo que defendeu ativamente o vínculo entre cultura e desenvolvimento sustentável, convertendo-o em uma política pública que traspassa fronteiras nacionais.

A Estratégia Ibero-americana de Cultura e Desenvolvimento Sustentável, aprovada recentemente na XXVII Cúpula Ibero-americana nos converte na única região do mundo que conta com um roteiro para alinhar as políticas públicas culturais ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em áreas tão decisivas como cidadania cultural, institucionalidade cultural, dimensão econômica e meio ambiental da cultura, entre outras.

2022 foi declarado ano Ibero-americano da Cultura e do Desenvolvimento Sustentável na passada reunião de chanceleres da Ibero-América

2022, foi declarado “Ano Ibero-americano da Cultura e do desenvolvimento sustentável” pelos chanceleres da região e será chave para desenvolver esta estratégia trazendo vários encontros internacionais para amplificar o diálogo em torno à relação entre cultura, desenvolvimento e recuperação.

O primeiro encontro é o VIII Congresso Ibero-americano de Cultura, que terá lugar em Portugal, o segundo é a Conferência Mundial da UNESCO sobre Políticas Culturais (MONDIACULT), a se celebrar no México, em setembro de 2022. O terceiro encontro é o Grande Foro Mundial de Arte, Cultura, Criatividade e Tecnologia (GFACCT) que será acolhido pela Colômbia, um dos encontros internacionais mais importantes sobre indústrias culturais e criativas.

Cultura e recuperação

Precisamente a cultura é um eixo fundamental no projeto de uma nova economia pós-COVID, para o qual os países ibero-americanos aprovaram a criação do Fundo Ibero-americano de Garantias Recíprocas, que ajudará as P&MES e empreendedores culturais a ser sujeitos de crédito e ter liquidez para desenvolver seus projetos, gerar emprego no setor e contribuir, assim, à recuperação econômica também desde a cultura. Além disso, permitirá acometer desafios de mais longo prazo como a melhora da competitividade e a digitalização.

As indústrias culturais são um eixo fundamental das políticas públicas de recuperação pós-COVID, a partir dos setores mais golpeados pela crise

A Ibero-América tem uma bagagem de 30 anos de cooperação cultural que vai desde a cultura comunitária, cinema, teatro, orquestras, apoio a jovens artistas, bibliotecas, artesanato, até a promoção dos museus, das bibliotecas, dos direitos e aportes dos migrantes ou a Ibero-América dos sabores através da gastronomia. Dos 25 programas e iniciativas de cooperação ibero-americana, 13 correspondem à área de cultura e desenvolvimento.

Portanto, a Ibero-América não é só uma potência cultural, senão também uma região líder em cooperação cultural para o desenvolvimento. Durante os piores momentos da pandemia e, ainda hoje, se vê como a cultura representa uma ponte de união entre países, comunidades e entre as pessoas