Neste duro ano de pandemia, a secretária-geral ibero-americana, Rebeca Grynspan, com frequência, recorreu a uma metáfora: a de que, com a COVID-19, os países também ficam doentes.
Esta metáfora se baseia no fato de que, à luz de todos os estudos econômicos internacionais, o Coronavírus interagiu com os países do mesmo modo que interage com as pessoas: aproveitando-se das precondições médicas, neste caso socioeconômicas, para exacerbar seu impacto.
Assim ocorreu na Ibero-América e, especialmente, na América Latina, que junto com a Europa é uma das duas regiões do mundo mais afetadas neste ano pelo Coronavírus.
Segundo Grynspan, perante o começo de programas de vacinação massiva contra a COVID-19, é hora, talvez, de utilizar outra metáfora: a dos países que se curam.
Pondo em valor o rol da cooperação ibero-americana na saída da crise, a secretária-geral ibero-americana oferece quatro chaves para que recuperação conduza a uma melhor normalidade.
Nesta crise vimos o muito que conseguimos quando fazemos as coisas juntos, quando o esforço e a solidariedade são coletivos
Uma cura integral
A primeira chave é o tempo. É fundamental que Ibero-América conte com programas de vacinação massivos e acessíveis o quanto antes. Quanto mais rápido se começar a frear a pandemia e se levantarem as medidas de confinamento, mais rápido as crianças poderão voltar à escola, as P&MES reabrir e a economia funcionar como costumava.
“Mas é fundamental não deixar ninguém para trás: não só as pessoas com precondições médicas e os sanitários, senão também os cidadãos que com menos recursos e acesso em função de sua raça, etnia, gênero, deficiência ou lugar de residência”.
A segunda chave é a confiança. Em economia, isto equivale a uma convicção de crescimento que convida a investir e apostar no futuro. Em política, isto se conhece como “pacto social”: a afirmação de pertencimento a um coletivo, inclusivo e democrático, onde a resposta é conjunta e, ao mesmo tempo, diferenciada, como diferenciados são os impactos socioeconômicos da pandemia.
A terceira é a saúde no sentido amplo. Assim como a vacina não cura a diabete, a imunização coletiva não borra a pobreza nem as desigualdades. “As tarefas pendentes –a saúde e a educação universal de qualidade, a melhora dos serviços públicos e a proteção social– devem ser assumidos com valentia”, diz Rebeca Grynspan.
“Uma recuperação sem redução em pobreza, desemprego, desigualdade e informalidade, sem inovação, sem sustentabilidade nem equidade de gênero, não merece se chamar recuperação”, acrescenta.
Para a secretária-geral ibero-americana, a quarta chave são as redes de apoio. O doente não se cura sozinho; a América Latina também não. É necessário um multilateralismo fortalecido, que ofereça de maneira urgente novos esquemas de financiamento e cooperação para a região, que concrete programas de vacinação universais, que afiance a luta contra a mudança climática e que compartilhe sua prosperidade através do comércio justo.
“Nesta crise vimos o muito que conseguimos quando fazemos as coisas juntos, quando o esforço e a solidariedade são coletivos: a sociedade e a colaboração científica salvaram dezenas de milhões de vidas neste ano”.
Segundo Grynspan, esta é a lição mais importante de 2020.