O chileno Andrés Allamand Zavala, próximo secretário-geral ibero-americano, eleito por unanimidade pelas ministras e ministros de Relações Exteriores da Ibero-América avançará uma “agenda de trabalho particularmente intensa”, cujo eixo central será a recuperação frente à pandemia COVID-19, como ele mesmo reconheceu na roda de imprensa que seguiu à sua eleição. Nesta agenda para uma recuperação transformadora, a cooperação regional e a busca de consensos cobram especial importância.
Allamand pilotará a secretaria das Cúpulas Ibero-americanas em um momento que, mais além das distintas posturas políticas, todos os países da região enfrentam desafios comuns que requererão reforçar a cooperação regional e aprofundar a integração partindo dos temas que concernem e afetam o conjunto do espaço ibero-americano.
Allamand: “A Ibero-América necessita maior coesão política frente aos processos de fragmentação que a região vive”.
Ao agradecer em suas redes sociais o apoio dos chanceleres ibero-americanos em uma votação que evidenciou que é possível alcançar consensos apesar da diversidade política, Andrés Allamand destacou o desafio de “fortalecer a integração da Ibero-América e posicioná-la com força no cenário internacional”.
Agradezco la confianza y el apoyo de todos los cancilleres de Iberoamérica, quienes me han dado el honor de dirigir la @SEGIBdigital por el próximo período. Enfrentamos el desafío de fortalecer la integración Iberoamericana y posicionarla con fuerza en el escenario internacional. pic.twitter.com/U1NTsDxMVR
— Andrés Allamand (@allamand) November 26, 2021
“Uma agenda positiva de futuro”
Em suas primeiras declarações públicas minutos depois de sua eleição na República Dominicana, Allamand falou sobre levar adiante uma “agenda positiva de futuro”, que centrará seu mandato frente à Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB). Quais são os temas chave desta agenda de trabalho?
O ponto central sobre o qual focará sua ação será a recuperação da pandemia, cujas consequências não só golpeiam no âmbito sanitário, senão também em termos socioeconômicos, aprofundando a desigualdade social e as brechas existentes antes da pandemia.
“Devemos ser capazes de avançar rumo a um crescimento econômico progressivo para derrotar a pobreza e diminuir as desigualdades, mas ao mesmo tempo inclusivo, que ponha a atenção na igualdade de gênero, no empreendimento feminino, no impulso às p&mes e nos desafios que os povos originários ainda enfrentam”, avançou o secretário-geral ibero-americano eleito.
A agenda ambiental e a luta contra a mudança climática também se encontram entre suas prioridades.
Precisamente, o tema meio ambiental é uma das áreas que centrou a ação da cooperação ibero-americana nos últimos anos e que se intensificou depois de um consenso histórico alcançado pelos ministros/as de Meio Ambiente reunidos pela primeira vez desde havia 11 anos e após o mandato presidencial na passada Cimeira para avançar rumo a uma Agenda Meio Ambiental Ibero-americana com compromissos e planos de ação comuns.
“Ser capazes de gerar uma política regional contra os efeitos da mudança climática é de extraordinária importância”.
Simultaneamente, afirma Allamand, “seguiremos dando relevância às matérias do futuro”, que vão desde a educação formal e a preparação do recurso humano para o salto digital, como a própria economia digital, direitos digitais, inteligência artificial, entre outros.
Na reunião que culminou com a designação de Allamand, os responsáveis de exteriores da Ibero-América acordaram também trabalhar conjunta e articuladamente em temas como o acesso universal às vacinas, financiamento da recuperação através dos Direitos Especiais de Giro (DEG), assim como cultura e propriedade intelectual. Também foi aprovada a proposta do Equador de ser a sede da Cúpula Ibero-americana em 2024, a qual será ratificada na próxima Cúpula Ibero-americana em 2022.
Neste sentido, Allamand afirmou que a declaração subscrita pelos 22 países ibero-americanos nesta reunião é “o roteiro para o futuro”.
A grandes desafios, grandes consensos
Os imensos desafios que a região enfrenta só poderão ser afrontados desde uma cooperação ibero-americana reforçada e a partir de grandes acordos e diálogo propositivo no âmbito político. Isto requererá grande capacidade de negociação e aproximação de posturas em um momento tão decisivo como complexo.
O próximo secretário-geral ibero-americano e atual Ministro de Relações Exteriores do Chile foi um dos principais negociadores de um documento chave na transição democrática de seu país, o “Acordo Nacional para a Transição rumo à Plena Democracia” que requereu um amplo processo de diálogo entre forças políticas.
Em diferentes facetas de sua trajetória profissional, Allamand demonstrou a capacidade de estender pontes mais além das ideologias e um grande conhecimento das relações internacionais, demonstrado ao atender matérias relacionadas com os processos de regionalização em sua etapa como senador da República do Chile.
Ainda assim, trabalhou como consultor no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington, com foco nos temas de governabilidade democrática, fortalecimento dos Congressos e empoderamento da sociedade civil.
No âmbito político, Allamand foi Ministro de Defesa durante a primeira legislatura do presidente Sebastián Piñera, antes de ser nomeado Ministro de Relações Exteriores no segundo período do mandatário chileno, que conclui no próximo dia 11 de março.
Andrés Allamand Zavala sucede no cargo à costa-ricense Rebeca Grynspan, que em setembro de 2021 deixou o cargo para liderar a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), mas cujo período conclui oficialmente em abril de 2022. Neste sentido, Allamand afirmou que “fará o possível por antecipar o relevo na Secretaria-Geral Ibero-americana” para assumir plenamente suas funções antes dessa data.