A resposta à crise dos governos locais para atender os grupos vulneráveis na Ibero-América

A experiência da rede de cidades ibero-americanas e seus grupos de trabalho para fazer frente aos efeitos socioeconômicos da pandemia da COVID-19.

A resposta à crise dos governos locais para atender os grupos vulneráveis na Ibero-América
Un trabajador desinfectando los buses del servicio urbano en la ciudad de Lima, Perú

As consequências que a COVID-19 terá para as cidades e seus habitantes são parte do debate entre atores e setores da região ibero-americana, que tratam de dilucidar os modelos que esta pandemia deixará atrás de si, assim como as soluções a implementar.

Uma das iniciativas atuais é constituída pelo Grupo de Trabalho para a Abordagem Integral da COVID-19, criado pelo Centro Ibero-americano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (CIDEU), um espaço de cooperação em rede entre cidades, no qual já realizaram dez encontros virtuais internacionais (webinars) entre março e maio de 2020, e se apresentaram as experiências de 21 cidades.

“As cidades estão ávidas por aprender e por dizer ao mundo o que estão fazendo, porque tudo está custando muito trabalho e estão muito orgulhosas do que foram capazes de fazer”, diz Rosa Arlene María, diretora executiva do CIDEU.

Este esforço, realizado em colaboração com a Rede de Inovação Local (RIL) e com o apoio da Prefeitura de Barcelona, contou com a participação de cerca de 350 pessoas (muitas vinculadas à toma de decisões) de 100 cidades e 14 países da Ibero-América.

“Algo a destacar é a rápida capacidade que as cidades tiveram para incorporar atores não tradicionais para dar essa resposta”, comenta María.

Como é o caso de Medellín com a experiência rota N, onde foi simples acessar esses clusters já consolidados “para produzir respiradores a grande escala, gerar a capacidade de ajudar outras cidades e articular atores como universidades, grupos de cientistas, empreendedores, entre outros”, explica.

“Isto pôs em evidência a importância da inteligência coletiva, a necessidade de integrar saberes de diferentes setores e a possibilidade de “perguntar/gerar desafios” à cidadania para que dela venham as soluções”.

As cidades estão ávidas por aprender e por dizer ao mundo o que estão fazendo, porque tudo está custando muito trabalho e estão muito orgulhosas do que foram capazes de fazer

 
A resposta econômica e social das cidades

A equipe do CIDEU está trabalhando em um documento que compila as experiências de aprendizado, disponível para todas as cidades, com o fim de aceder ao conhecimento ordenado por temas e conectar-se entre elas para encontrar soluções conjuntas. Alguns temas são:

Impacto sobre as mulheres

Os indicadores provistos por todas as cidades advertem do risco de que, com a crise, se amplie ainda mais a brecha de gênero devido ao aumento de denúncias de violência para com as mulheres, o aumento do trabalho reprodutivo ou a porcentagem de mulheres que trabalham nos empregos mais afetados pela crise.

Novos modelos de produção e consumo

Existe preocupação pela continuidade das cadeias agroalimentares e pela ruptura das cadeias produtivas. Qual é o modelo de saída? Que equipes e equipamentos existem para construir novas alternativas? Que alternativas existem para outros modelos como a economia social?

Descentralização e o rol dos governos locais

Como se afronta esta crise com um Estado sem recursos? Qual é o rol do Estado, com que modelo vai se trabalhar?  “Uma das principais reflexões foi sobre ser ou não necessária uma maior descentralização para estas respostas”, manifesta Rosa María.

“O que mais foi valorizado pelos participantes foi o espaço de contenção. Apesar dos contrastes das cidades que representavam, foram capazes de agrupar o conhecimento, propor interrogantes e criar propostas de valor”, diz.

 

O que vem pela frente

A segunda etapa, que foi iniciada em julho e se estenderá até novembro, é trabalhar em Grupos de trabalho temáticos. Segundo explica a especialista, estes grupos elaboram agendas especializadas analisando os insumos recebidos dos webinars para definir ferramentas e metodologias que possam se transladar às cidades.

“Incorporamos também a perspectiva dos prefeitos (através do foro de prefeitos e prefeitas) e da comunidade de estrategistas urbanos, para falar sobre o direito à cidade e como se modificam as agendas globais neste contexto”, diz a especialista.

Algumas iniciativas temáticas já propostas pelas cidades são: mobilidade, inclusão social, espaço público e saúde urbana, desenvolvimento econômico local e emprego, cultura e patrimônio, resiliência, mudança climática e impacto ambiental, entre outras.

O relatório estará disponível na web do CIDEU