Assim respondeu Andorra perante a crise sanitária da COVID-19

A Secretaria Pró Têmpore da Conferência Ibero-americana 2019-2020 está a cargo de Andorra. A diretora da XXVII Cimeira Ibero-Americana, Gemma Cano, compartilha a experiência do país frente à COVID-19 e defende -hoje mais que nunca- o multilateralismo.

Assim respondeu Andorra perante a crise sanitária da COVID-19

 

Desde Andorra, como Secretaria Pró Têmpore (SPT) da Conferência Ibero-americana, vínhamos trabalhando com muitos êxitos durante 2019, que finalizou com uma reunião de chanceleres muito produtiva e muito trabalho em torno à cooperação ibero-americana. Começamos 2020 com o mesmo entusiasmo, quando de repente tudo parou. O governo de Andorra focou no gerenciamento da crise, como os demais países.

A cooperação natural de Andorra é com os países vizinhos, Espanha e França, mas enquanto eles também tinham de gerenciar a urgência sanitária, Andorra teve que tomar ações rápidas, não só sanitárias senão também econômicas e sociais, para evitar um colapso.

A preocupação principal foi não colapsar o sistema sanitário, porque só temos um hospital, poucas camas na Unidade de Cuidados Intensivos e poucos recursos de pessoal para gerenciar uma pandemia.

Uma das medidas sanitárias foi solicitar a assistência de pessoal médico através do programa de cooperação com Cuba . Outra medida foi realizar rapidamente um “screening” (teste) a toda a população.

O fato de que tenhamos 75.000 habitantes nos permitiu implantar um sistema de teste global, duas vezes, em 15 dias. Creio que somos um dos poucos países em fazê-lo deste modo. Isto ajudará a ter uma estratégia precisa e uma desescalada com dados fiáveis.

 
Desafios importantes e novas propostas

O turismo e o setor dos serviços são fundamentais para o Produto Interior Bruto (PIB) do país, já que temos pouca indústria. Se as fronteiras estão fechadas, também não vêm turistas.

Esta crise vai nos permitir refletir em como reconverter-nos como país; repensar nossa economia, talvez criar uma indústria. São decisões que terão de ser tomadas neste sentido.

Como a SPT, a crise também nos fez repensar um novo calendário de atividades, um novo modo de trabalhar, novas formas de nos comunicarmos com os cidadãos e de educar, usando novas tecnologias e a inovação em todos os âmbitos.

A crise faz mais evidentes problemas que já existiam, como a brecha digital, a desigualdade na educação, a necessidade de proteger grupos vulneráveis.

Como em outros países, também em Andorra foi prestada uma atenção particular ao tema da violência de gênero durante este confinamento. Tudo isto é algo no que teremos de trabalhar.

Então, ao lema de nossa cimeira, que é “Inovação para o Desenvolvimento Sustentável – Objetivo 2030”, teremos que acrescentar um espaço de diálogo para que os 22 países da região possam partilhar como afrontam esta crise, sem deixar para trás os outros temas importantes.

Para a SPT, este espaço multilateral obviamente ficará afetado em sua maneira de trabalhar, mas não em sua essência de abrir âmbitos de participação aos países, intercambiar experiências e cooperar.

 
Participação cidadã

Para a implementação do sistema de “screening” a toda a população houve uma colaboração entre o governo central, o governo local e a cidadania (voluntários formados para organizar os stop labs e realizar os testes).

No caso de Andorra, o local foi relevante. O país está formado por sete municipalidades e, ainda que tenha sido uma ação do governo, são elas as que puseram em funcionamento o teste nas comunidades.

Além disso, uma equipe de jovens, empreendedores e engenheiros participaram na implantação desta estratégia.

A sociedade civil andorrana também foi crucial. O governo de Andorra abriu uma conta para realizar aportes econômicos para a atenção da emergência e a ajuda foi importante.

 
Desafios para a cooperação

A região ibero-americana é líder em Cooperação Sul-Sul. Andorra é membro do programa desde o ano de 2018, e estamos descobrindo seu potencial. É um dos melhores programas que existem. Estou muito orgulhosa de que tenhamos entrado durante meu mandato.

Esta crise sanitária deixou a cooperação frente ao desafio de defender o multilateralismo em um formato renovado, recordando que o urgente não deve deixar para trás o importante: a educação, o meio ambiente, a brecha digital e a violência de gênero, entre outros.