As mulheres Wounaan abraçam a inovação para romper barreiras

Um teclado em língua indígena impulsionado pelo Laboratório de Inovação Cidadã (LABIC) da SEGIB permitiu às mulheres Wounaan, no Panamá, reduzir a barreira tecnológica e de alfabetização que afeta as comunidades indígenas da América Latina. 

Na comunidade indígena Wounaan, no Panamá, as mulheres se converteram em protagonistas da inclusão digital. Há alguns anos, as telas devolvem letras e sons que não figuram no alfabeto espanhol, um idioma que consideram “emprestado”. Agora, graças a um aplicativo impulsionado pelo “Projeto Comarca” podem escrever em woun meu, sua língua materna, até agora ausente do universo digital. 

A iniciativa busca principalmente empoderar as mulheres do povo Wounaan a contar sua própria história e, além disso, fazê-lo em seu próprio idioma. Para isso, conta com teclados específicos no idioma woun meu, permitindo às comunidades escrever sem recorrer a adaptações forçadas ou limitações tecnológicas.

Graças a um app podem escrever em woun meu, sua língua materna, até agora ausente do universo digital 

“Antes, não tínhamos outra opção a não ser usar alfabetos do espanhol, mas agora podemos escrever corretamente, com nossos próprios caracteres. É emocionante”, explica a cacique geral do povo Wounaan, Aulina Ismare Opua, uma das poucas mulheres caciques da América Latina.

O projeto representa também uma ponte entre as tradições ancestrais e o futuro digital, especialmente para as novas gerações, cada vez mais expostas à tecnologia e ao domínio do espanhol, principalmente nas escolas, onde as línguas indígenas muitas vezes são relegadas ao esquecimento. Mas o aplicativo não apenas revoluciona a maneira como o povo Wounaan escreve, ensina e transmite seu idioma aos mais jovens, como também representa um avanço crucial para reduzir a barreira tecnológica e de alfabetização que afeta, principalmente, as mulheres da comunidade.  

O impacto vai além do prático. Para as mulheres Wounaan, escrever em seu idioma significa ser reconhecidas e “reconhecer-se como escritoras”, narradoras de suas próprias vidas. “Isso nos fortalece como mulheres. Projetos como este não têm preço; são um patrimônio inestimável. Não é apenas uma ferramenta, é uma maneira de preservar nossa identidade e transmiti-la às futuras gerações”, reflete Aulina.

LABIC: Inovação cidadã para reduzir barreiras 

O “Projeto Comarca” nasceu quando o colombiano Sergio Aristizábal, tipógrafo, percebeu a falta de acessibilidade das comunidades indígenas aos meios digitais. “Enquanto digitava no meu celular, percebi que alguns dos meus amigos indígenas não podiam fazer o mesmo em sua própria língua. Por isso, optavam por se comunicar entre si no WhatsApp em espanhol”, relata Aristizábal.

A ideia ganhou forma no LABIC celebrado no Panamá em 2022, em um laboratório organizado pela Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) em colaboração com o Governo do Panamá e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), com o objetivo de propor soluções cidadãs aos problemas enfrentados pelas comunidades da Ibero-América. 

Durante o Laboratório, profissionais de diferentes setores e de diversos países da Ibero-América trabalharam durante 10 dias na Cidade do Panamá com um grupo de mulheres Wounaan para entender suas necessidades, colocá-las no centro da participação e transformá-las em parte da solução. Esse trabalho foi possível graças à mediação de duas integrantes da equipe Comarca, uma antropóloga e uma educadora popular, além do apoio fundamental de Doris Cheucarama, tradutora e membro dessa comunidade indígena que habita territórios entre a Colômbia e o Panamá.

O principal desafio, conta Cheucarama, foi entrar em contato e reunir as mulheres indígenas em um único espaço para trocar ideias, expressar suas preocupações e adequá-las ao projeto, que também contou com o apoio de outros programas de cooperação promovidos pela SEGIB como IberCultura Viva e Ibermemória Sonora, Fotográfica e Audiovisual.  

A ambição agora é que o projeto ultrapasse as fronteiras do Panamá e possa, no futuro, inspirar outras comunidades indígenas da América Latina a preservar sua riqueza cultural e linguística em um mundo cada vez mais digital.

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