O CYTED promove a cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre os países da comunidade ibero-americana. Seu foco principal: a criação de redes temáticas de pesquisa e desenvolvimento, que possibilitam a colaboração entre pesquisadores de diferentes países para compartilhar conhecimento, avançar em pesquisas científicas e encontrar soluções para problemas comuns da região.
Seu atual Secretário-Geral desde 2020, Luis Telo da Gama, resume os 40 anos de trajetória deste Programa ligado à SEGIB.
CYTED completa 40 anos desde sua criação. Como surgiu este programa e qual é seu principal propósito?
O Programa foi fundado em 1984 através de um acordo entre as Agências Nacionais de Ciência e Tecnologia dos países ibero-americanos de língua espanhola e portuguesa, inicialmente 21 países, que depois se ampliaram para 22 com a incorporação de Andorra. Seu propósito central sempre foi estimular a cooperação científica e tecnológica entre os países da região, promovendo o intercâmbio de conhecimento e a colaboração em temas estratégicos relevantes para todos os países participantes. Ao longo desses 40 anos, o CYTED evoluiu e cresceu, mas sua missão permanece a mesma: unir esforços em ciência, tecnologia e inovação para enfrentar os desafios comuns da Ibero-América.
O que torna o CYTED um programa único na Ibero-América?
Trata-se do programa de cooperação mais antigo da região no âmbito da ciência e tecnologia. Sua estrutura facilita o trabalho conjunto entre países e seu enfoque em criar sinergias por meio da cooperação permite que pesquisadores e empresas abordem temas que seriam difíceis de enfrentar individualmente. Isso não apenas impulsiona a geração de conhecimento, mas também permite a transferência tecnológica e a formação de capacidades em cada país participante. A colaboração gerada vai muito além dos projetos; estamos falando de criar uma rede de relações e conhecimentos que reforça a capacidade científica de toda a região.
Ao longo desses anos, quantas pessoas e instituições colaboraram no CYTED?
Contamos com a participação de mais de 55.000 pesquisadores e empresários de cerca de 12.000 instituições de toda a Ibero-América. Além disso, por meio de nossas diversas iniciativas e redes, lançamos e apoiamos 650 projetos que envolveram cientistas, tecnólogos e empresários de todos os países ibero-americanos. Atualmente, estão ativas 65 redes, 2.155 grupos de pesquisa e 6.190 pesquisadores. Esses números refletem o alcance do CYTED e sua capacidade de integrar os países em temas de interesse comum e alta aplicabilidade em ciência e tecnologia.
Algumas redes temáticas dos 40 anos do cyted
- REASISTE, Rede Ibero-Americana para Reabilitação e Atendimento a Pacientes com Lesão Neurológica por Meio de Exoesqueletos Robóticos de Baixo Custo
- Musa Ibero-Americana, Rede de Museus e Centros de Ciência
- Rede CULTIVA, Rede Ibero-Americana de cultivos subutilizados e Marginais com Valor Agroalimentar
- Rede RIMGECH, Rede Ibero-Americana de Medicina Genômica na Doença de Chagas
- Projeto estratégico Genome-CYTED, Sequenciamento do genoma do feijão.
O CYTED trabalha principalmente através de redes temáticas. Como funcionam essas redes e quais áreas elas abrangem?
As redes temáticas são o núcleo do nosso trabalho. Elas reúnem equipes de pesquisa e empresas que abordam um tema específico, com participantes de, no mínimo, seis países da região. Anualmente, abrimos uma chamada que prioriza linhas de pesquisa em áreas temáticas específicas, incluindo agroalimentação, saúde, desenvolvimento industrial, desenvolvimento sustentável, TIC, ciência e sociedade, energia e atividades transversais. Em cada área temática, os grupos de pesquisa de toda a Ibero-América podem participar, contribuindo com seu conhecimento e colaborando em projetos de até quatro anos. Isso permite a criação de uma estrutura cooperativa que fomenta novas atividades conjuntas e fortalece a integração dos países.
Atualmente, estão ativas 65 redes, 2.155 grupos de pesquisa e 6.190 pesquisadores
Que tipo de apoio recebem os pesquisadores nessas redes?
Nosso apoio se concentra no intercâmbio de conhecimentos e na mobilidade dos pesquisadores, mais do que no financiamento da pesquisa em si. Por exemplo, cada rede recebe, durante quatro anos, um financiamento de 75.000 euros – que esperamos aumentar para 110.000 nos próximos anos – usado para cobrir custos de formação, mobilidade, estágios e práticas, facilitando a colaboração e aprendizado mútuo entre os pesquisadores. O apoio é modesto, mas o entusiasmo e o compromisso dos participantes têm sido essenciais para manter essa rede de cooperação ativa na Ibero-América.
Qual é a importância da governança no programa CYTED?
A governança no CYTED é fundamental. A Assembleia Geral, composta por representantes das Organizações Nacionais de Ciência e Tecnologia dos 22 países membros, é o órgão supremo. Ela se reúne anualmente e tem a responsabilidade de definir as prioridades e aprovar as atividades a serem financiadas. A Secretaria-Geral administra a implementação das decisões da Assembleia e assegura a coordenação entre todos os atores. Além disso, cada área temática conta com um gestor e um comitê de especialistas que ajudam a consolidar e supervisionar os projetos. É um sistema de governança colaborativo que assegura que as decisões sejam inclusivas e representem as necessidades e prioridades de cada país membro.
Cinco missões
Na VI Reunião de Ministras, Ministros e Altas Autoridades de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em 10 de outubro em Valência, foi assinada uma declaração conjunta dos 22 países, atribuindo ao CYTED a coordenação operacional das cinco missões da Estratégia Ibero-americana de Inovação (EII), lançada há três anos: alimentação, mudança climática e meio ambiente, digitalização e inteligência artificial, saúde e transição energética.
A colaboração internacional é essencial para o CYTED. Quais vantagens ela trouxe para a região?
A colaboração internacional permite que conhecimento e tecnologia sejam compartilhados e adaptados aos contextos específicos de cada país. Esse enfoque fortalece as capacidades locais de pesquisa, reduz a duplicação de esforços e cria um efeito multiplicador no conhecimento. Graças a essa cooperação, podemos enfrentar desafios comuns, como mudanças climáticas, saúde pública, energia e segurança alimentar, de forma mais eficaz. A cooperação entre países com afinidades culturais e linguísticas facilita o sucesso dos projetos e permite a construção de relações duradouras que vão além dos limites geográficos.
Falando em afinidades linguísticas. Como promover o espanhol e o português como idiomas de comunicação científica para contrabalançar a preponderância do inglês?
Essa é uma questão muito complexa. O inglês domina o espectro das publicações científicas, o que é fundamental para o reconhecimento dos pesquisadores e é muito difícil mudar essa dinâmica. A chegada da Inteligência Artificial, inclusive, tende a intensificar esse cenário.
O CYTED também trabalhou na igualdade de gênero dentro de seus projetos. Poderia nos contar sobre esses esforços?
A igualdade de gênero é uma prioridade para nós. Atualmente, 37% de nossas redes são lideradas por mulheres e 39% dos pesquisadores que participam nelas também são mulheres. Países como Uruguai, Venezuela e Cuba, inclusive, contam com uma maioria feminina em seus grupos de pesquisa. Dos oito gestores de área, cinco são mulheres, e avançamos para incluir uma representação equitativa em todas as atividades do CYTED. Ainda podemos fazer mais, e seguimos comprometidos em melhorar a inclusão de gênero em todos os nossos projetos e áreas de pesquisa.
37% de nossas redes são lideradas por mulheres, e 39% dos pesquisadores que participam nelas também são mulheres
Além das redes temáticas, quais outras iniciativas estratégicas o CYTED impulsionou recentemente?
Uma de nossas iniciativas estratégicas recentes é a criação do Observatório Ibero-americano de Biodiversidade, que responde à riqueza natural de nossa região e à necessidade de enfrentar problemas comuns. Esse observatório permitirá que os países compartilhem experiências e estratégias de conservação. Outra atividade destacada foi nossa resposta à pandemia de COVID-19, onde desenvolvemos a rede COVIRED para facilitar a cooperação entre os países em temas de saúde pública e vírus emergentes, reforçando as capacidades regionais para enfrentar esta e futuras emergências sanitárias.
Como é financiado o programa e quais são os desafios nesse aspecto?
O CYTED é financiado por contribuições voluntárias dos países membros, e cada país contribui com uma cota segundo um modelo acordado na Assembleia Geral. A Espanha faz uma contribuição adicional essencial para cobrir as despesas da Secretaria-Geral. O desafio é assegurar um compromisso firme e contínuo dos países, pois sem esse apoio, o programa não poderia se sustentar. Embora os fundos sejam limitados, o impacto em termos de colaboração e inovação é significativo, e isso motiva os países a manter seu compromisso.
Qual é o impacto a longo prazo que o CYTED espera alcançar na região?
Foi criada uma rede de cooperação com impacto duradouro na Ibero-América. A colaboração que promovemos enriquece o conhecimento científico e tecnológico e cria vínculos entre os 22 países. Esperamos que essa rede continue crescendo e se adaptando aos desafios emergentes da região, como a digitalização, a transição energética e a saúde pública. Nosso objetivo a longo prazo é consolidar o CYTED como uma plataforma de referência para a cooperação científica e tecnológica na Ibero-América, gerando benefícios que transcendem as fronteiras nacionais e contribuem para um desenvolvimento sustentável para todos.