Os países ibero-americanos estão impulsionando um roteiro que guie o compromisso de Ibero-América pelo desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente, compromisso que foi renovado durante a X Conferência Ibero-americana de Ministros e Ministras de Meio Ambiente, celebrada em setembro 2020.
Em tal reunião, os países advogaram pela recuperação progressiva dos sistemas produtivos baseados na coexistência de diferentes sistemas agrícolas sustentáveis em busca de um modelo de produção e consumo que contribua à segurança alimentar e à recuperação de conhecimentos tradicionais.
Um caso de êxito na região ibero-americana é o liderado pelo agrônomo argentino, Eduardo Cerdá, impulsor da agroecologia em seu país e em países como o Uruguai, o Brasil, a Espanha e o Equador.
“A agroecologia é uma ciência que ensina a compreender os processos que têm a ver com a vida, com a biologia, com as relações das coisas vivas e que, basicamente, tem a ver com a saúde”, afirma Cerdá.
Desde o fim da década de 90, o profissional promove, educa, e constrói redes para que haja maior quantidade de produtores agroecológicos e mais responsabilidade no consumo.
Começou com um campo chamado a Aurora na província de Buenos Aires. Ali provou técnicas agroecológicas e se converteu em um caso de testemunho. Seu trabalho foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), como um dos estabelecimentos modelo no mundo.
“Mais alimentos saudáveis, mais comunidade”
Desde então a demanda para trabalhar desta maneira cresceu tanto que ciou a Rede Nacional de Municípios e Comunidades que Fomentam a Agroecologia (Renama), uma organização de base que compila e sistematiza informação para assessorar 30 municípios, tanto na Argentina como no Uruguai.
“O modelo foi solicitado no Brasil e participei na lei nacional de Agroecologia no Uruguai e desta maneira vão se construindo saberes”, explica Cerdá.
Em Binéfar, no noroeste da Espanha, armou junto a produtores e outros profissionais, o projeto “Com os pés no chão”.
Além disso, trabalha com universidades, escolas, organismos regionais e nacionais, produtores, feiras, entre outros.
“As mudanças levam seu tempo. São todos projetos com os quais vamos gerando experiências para que, em outras áreas, também sejam possíveis”, explica.
Assegura que, ainda que se tenha de conviver com outras visões, “devemos construir cidades que peçam cada vez mais agroecologia. Mais alimentos saudáveis, mais comunidade”.
Com seu trabalho, a Argentina se transformou no primeiro país da Latino-América em ter uma Direção de Agroecologia, que está a seu cargo.
“É muito importante porque quer dizer que a agroecologia existe para o Estado”, afirma.
As mudanças levam seu tempo. São todos projetos com os quais vamos gerando experiências para que, em outras áreas, também sejam possíveis
Mudanças no consumo de alimentos
A crise atual derivada da COVID19, ressaltou uma tendência crescente ao cuidado da saúde, entre as quais, alimentar-se bem é uma preocupação para grande parte da população, como o fato de evitar as compras de alimentos com ingredientes cuja procedência muitas vezes não se conhece.
Por isso, Cerdá trabalha junto com os docentes de escolas, com orientação agro técnicas, para que crianças se alimentem de maneira saudável. E saibam produzir este tipo de alimentos.
“Os produtos de proximidade evitam os translados. São produtos frescos, saudáveis e seguros” explica. Mas, ao mesmo tempo, se produz uma economia circular entre produtores e as comunidades.
Por isso, remarca que a agroecologia resgata a mudança de paradigma. “Ou se toma consciência e se avança em mudanças sociais ou estamos em perigo”.
Para o cientista argentino, os alimentos não deveriam ter substâncias tóxicas. “O que nos aconteceu, como sociedade, para que estejamos consumindo isso?”, se pergunta.
“Acredita-se que é necessário usar fertilizantes e herbicidas para produzir mais, porém, para algo que cada vez alimenta menos”, afirma, quando em realidade, “tudo o que foi melhorado não tem a ver com o alimento em si, senão com o rendimento produtivo”, afirma.
Os produtos de proximidade evitam os translados. São produtos frescos, saudáveis e seguros