“Ainda há pessoas que tomam água de poço, isso é algo que dói muito e não vejo ninguém comprometido em superar a pobreza, isso tem de ser prioridade”, diz Araceli Ledesma, uma referência comunitária de Buenos Aires, quem dia-a-dia observa de perto as desigualdades na capital da Argentina.
Este é um dos 14 testemunhos recolhidos pela consulta regional “Desenvolvimento Sustentável na Ibero-América, desafios e tensões desde a governança local” realizada entre a Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), o Organismo Internacional de Juventude para a Ibero-América (OIJ) e a ONG Techo, adscrita também à Cooperação Ibero-americana.
Fruto de uma aliança entre as três instituições, este relatório recolhe experiências de participação cidadã na Argentina, Panamá, Portugal, Guatemala, Espanha, Peru, Venezuela, Haiti, Uruguai, Brasil, Colômbia e Chile.
Segundo ONU-Habitat, na América Latina mais de 100 milhões de pessoas vivem em assentamentos populares.
Araceli visita um deles, duas vezes por semana, para denunciar as condições nas que estas pessoas se veem obrigadas a subsistir.
“Antes não sabíamos que tínhamos direitos, por isso necessitamos mais conhecimento. Se não temos conhecimento, falam-nos com termos que não entendemos e o desconhecimento leva a frustrações (…) temos de estar formados para seguir na luta. A luta assim o demanda”, conta.
“Aqueles que vivem em assentamentos populares e aqueles que formam parte das juventudes ibero-americanas são agentes de transformação social, não um público receptor de políticas públicas”
Empoderamento cidadão
Ledesma é um exemplo de empoderamento cidadão, de quando a cidadania faz sua parte para aportar ao desenvolvimento sustentável e, às vezes sem sabê-lo, ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que esperam ser alcançados em 2030.
Outro deles é a peruana Jessica Huamán, regente metropolitana de Lima, quem põe como exemplo a Comissão Ambiental Metropolitana como órgão no qual se pretende fomentar um diálogo entre setores público e privado para orientar as políticas de meio ambiente da cidade.
“Com a ativação da Comissão Ambiental Metropolitana, as instituições públicas e privadas, os governos locais e a sociedade civil terão voz e voto para decidir o rumo que a Municipalidade de Lima tomará em matéria de gestão ambiental”, assegura.
Este ente, formado em fevereiro deste ano pela Prefeitura de Lima, foi implementado com o fim de “envolver as e os jovens na participação cidadã em Lima (…) para contribuir ao desenvolvimento do país”, explica Jessica.
Os desafios
Esse é, precisamente, um dos desafios que o relatório assinala, a apropriação e participação cidadã para, em última instância, cumprir com os ODS conformando-se como um ator forte e crucial que complemente os esforços do setor público e do privado.
“Aqueles que vivem em assentamentos populares e aqueles que formam parte das juventudes ibero-americanas são agentes de transformação social, não um público receptor de políticas públicas”, destaca o relatório.