A crise do trabalho, assim como o avanço das políticas neoliberais tem ocasionado o crescimento do desemprego, a informalidade e a precarização do trabalho. Como resultado disso, a configuração de políticas macroeconômicas tem contribuindo para o aumento de ocupações instáveis, mal remuneradas e cada vez mais precarizadas.
No Brasil, frente a esta realidade proliferaram-se iniciativas populares e heterogêneas de organização do trabalho, situados no contexto da informalidade urbana capitalista, denominados de empreendimentos econômicos solidários, cujas ações têm como base a autogestão, a cooperação, o desenvolvimento sustentável e a solidariedade. As iniciativas de economia solidária estão presentes em um conjunto de empreendimentos econômicos solidários, cujo trabalho em redes visa, além de gerar trabalho e renda, fortalecer a organização social e fomentar a articulação política. Este conjunto de iniciativas econômicas, se realiza em diferentes campos, pautando produção e consumo solidário como valor fundamental. No trabalho cooperado, esses homens e mulheres constroem saberes e resgatam sonhos. A consciência de progresso, melhoria da autoestima e senso de gratidão é patente.
As iniciativas de economia solidária são predominantemente caracterizadas pela presença feminina e cuja trajetória dessas mulheres é marcada por sucessivas perdas e exclusões. A violência e discriminação no mercado de trabalho, desigualdade de rendimentos, pobreza e precariedade no acesso a serviços públicos tais como acesso à educação e à saúde são experiências muito presentes. Violações de direitos decorrentes do racismo patriarcal, presentes tanto no espaço urbano, como também no ambiente rural, que potencializa situações de pobreza e vulnerabilidade, e que perpassam as relações de/no trabalho, incorporando outras desigualdades. Mulheres pobres, cuja maioria tem a cor da pele negra, e que enfrentam no seu cotidiano a dificuldade em conciliar trabalho produtivo e reprodutivo, acessar programas sociais e políticas públicas, verdadeiro desrespeito aos direitos humanos fundamentais.
No trabalho associado e cooperado que realizam fica perceptível a busca dessas mulheres de construir novas relações, coesão social, pertencimento. Ações e interações que se desdobram em outros processos, tendo em vista deslegitimar desigualdades, combater a naturalização de diferenças e fronteiras sociais, fortalecer a democracia participativa e a cidadania ativa. No entanto, sem negar sua importância, fica visível o fosso das desigualdades, a ausência de ativos de oportunidades.
Se por um lado esta iniciativa representa a descoberta de novas estratégias organizativas, revela também a perversidade do modelo capitalista de produção e consumo, que aprofunda cada vez mais a pobreza e contribui para que parcelas significativas da população permaneçam excluídas do direito a ter direitos. Um cenário que revela o desemprego estrutural, novas configurações do mundo do trabalho e novas exclusões, reafirmando situações precárias anteriores. Estas iniciativas, contudo, embora frágeis, trazem consigo o potencial emancipador de trabalhadores e trabalhadoras, que a duras penas reinventam mecanismos de inserção socioeconômica e produtiva, participativa e política; lutas por reconhecimento e emancipação social.